Itapetim| Zezé Patriota e sua curta vida no cangaço

Por Hesdras Souto

No final da década de 20 do século passado, o banditismo assombrava o nordeste brasileiro a todo vapor. O cangaceirismo, fruto, dentre outras coisas, da profunda concentração de renda e terra, era matéria recorrente em jornais de vários cantos do Brasil. Um homem notabilizou-se e ganhou fama por suas estratégias e afrontas, chamava-se Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião, O Rei do Cangaço, epíteto ganhado não por acaso. Lampião foi, sem dúvida, o mais bem sucedido líder cangaceiro que houve no Brasil. E por que não no mundo?

Apesar de ser o nome mais emblemático quando falamos sobre o Cangaço, diversos outros cangaceiros salteavam vilas e cidades por todo o Nordeste. O Sertão do Pajeú, no interior de Pernambuco, foi o solo mais fértil a parir cangaceiros. Assim como Lampião, herdeiro de Sebastião Pereira e Silva, o Sinhô Pereira, que também nasceu no Pajeú, outros grandes vultos do cangaço brotaram pelas margens desse mítico rio. Quem nunca ouviu falar em Manoel Baptista de Morais, o lendário Antônio Silvino, O Rifle de Ouro, que precedeu o “Rei do Cangaço”, ou ainda Adolpho Meia-Noite, o cangaceiro de ascendência inglesa, que por sua vez precedeu o Rifle de Ouro? Todos são filhos do Pajeú, todos banharam-se nesse rio e todos beberam de suas águas.

Outros dois cangaceiros contemporâneos de Lampião e igualmente nascidos na região do Pajeú foram Manoel Rodrigues e José Patriota, que agiram principalmente entre Flores, Afogados da Ingazeira, São José do Egito e nas cidades paraibanas limítrofes com Pernambuco, como Teixeira, Desterro e Patos.

Vamos nos ater a figura de José Patriota ou Zezé Patriota, como ficou conhecido. Nascido no povoado de Umburanas, atual cidade de Itapetim, em 01/05/1896, segundo consta em cruz aposta em sua homenagem, localizada na zona rural do município citado. Era filho do casal Miguel Archanjo Patriota e Antônia Maria do Espírito Santo. É importante salientar que não acreditamos nessa data de nascimento já que não encontramos nenhum registro de batismo com seu nome, ao contrário de seus irmãos, Levino, Antônio, Argemiro e Miguel.

As informações sobre a vida de Zezé Patriota ainda são escassas. O que sabemos sobre ele, até o presente, é o que foi repassado pela história oral e o que consta nos jornais. Por exemplo, não sabemos precisamente o motivo de ele ter entrado para o cangaço. O que podemos especular, baseado nas notícias dos jornais, é que sua vida no cangaço foi curta.

Segundo a história oral, em 1926, Zezé Patriota cometeu um homicídio no povoado de Bom Jesus, hoje Tuparetama (PE), vitimando o senhor Francisco Fidelis. O possível motivo foi uma desavença familiar envolvendo uma criança. Em setembro desse mesmo ano saem as primeiras notícias sobre os crimes de Zezé Patriota.

Numa delas (Jornal do Recife – 18/09/1926), Manoel Rodrigues e José Patriota tinham feito um grande assalto à Fazenda Europa, de propriedade do senhor Secundino de Souza Limeira, tendo os criminosos espancado até os seus familiares, fato noticiado pelo próprio Secundino em carta enviada à redação do jornal. Essa notícia nos leva a crer que Zezé (José) Patriota começou sua vida de cangaceiro no bando de Manoel Rodrigues, que de acordo com o referido jornal tinha apenas nove homens (Jornal do Recife – 31/06/1926

 

Posteriormente, Zezé Patriota formou seu próprio bando, sendo o substituto de Manoel Rodrigues, como consta na matéria do Diário de Pernambuco, de 14 de setembro de 1926, também reproduzida no jornal paulista O Combate (SP) em 24/09/1926.No mês de abril do mesmo ano, Zezé Patriota tinha ido ao Rio Grande do Norte cometer crimes, lá encontrou outros cangaceiros que se juntaram a ele. Após resistência da polícia potiguar, eles passam pela Paraíba e entram em Pernambuco, indo assaltar a Fazenda São Pedro, no município de São José do Egito, à época pertencente ao senhor Alfredo Dantas Vilar. O bando foi recebido a tiros pelos defensores da propriedade. Nesse combate Zezé Patriota foi ferido no pé e fugiu em direção ao Sítio  Mocambo. O primeiro jornal a noticiar o fato foi o pernambucano A Província, em 13 de maio de 1927. Posteriormente o Diário de Pernambuco, em 15 de maio de 1927.

A notícia da morte do Zezé Patriota também foi notícia em dois jornais do sudeste, no Gazeta de Notícias (RJ) em 15/12/1927 e no Diário da Noite (SP) em 26/12/1927.

José (Zezé) Patriota foi um dos muitos cangaceiros do nosso Pajeú e sua vida errante ainda precisa ser estudada. Afinal, a história do cangaço também faz parte de nossa história.

Hesdras Souto é Sociólogo, Pesquisador e Membro-Fundador do Centro de Pesquisa e Documentação do Pajeú – CPDOC-Pajeú