Coluna Fogo Cruzado – 22 de julho de 2019
A deputada Marília Arraes está aproveitando o recesso deste mês de julho para visitar correligionários no interior. Ela é o melhor quadro que o PT pernambucano revelou nas últimas eleições, porém ambos ainda não sabem precisar que tarefa lhe será oferecida pelo partido visando ao seu fortalecimento para 2020 e em 2022. Bagagem política ela tem de sobra para continuar empunhando em Pernambuco a bandeira do socialismo democrático, na mesma linha do que fizeram ex-governadores Miguel Arraes e Eduardo Campos, seu avô e primo, respectivamente. Marília foi uma das coisas novas que surgiram em Pernambuco nos últimos cinco anos após a morte dos ex-deputados Pedro Eugênio e Manoel Santos, do insucesso eleitoral de Fernando Ferro, do ocaso político do senador Humberto Costa e da falta de renovação do PT regional. Ela ainda não vive o mesmo dilema de sua colega Tábata Amaral, do PDT de São Paulo, que está suspensa do partido por ter votado a favor da reforma previdenciária. Mas poderia ter-se saído bem na fita se tivesse olhando menos para os sindicatos rurais e as corporações de servidores públicos, e mais para a reforma previdenciária que não é de Bolsonaro e sim do país. Raquel prefere apostar na histórica relação que mantém com o sindicalismo rural e urbano de Pernambuco, que vê a reforma “subtração de direitos”. É uma respeitável visão de mundo, porém não sustentável, dado que o Brasil pós Lava Jato precisa de um partido de centro-esquerda, moderno, que não faça concessões à demagogia, ao discurso fácil e à irresponsabilidade.
Relação não definida
Marília Arraes chegou a ser um “fenômeno” eleitoral em Pernambuco em 2018, mas a direção do PT cortou-lhe as asas para que ela não pusesse risco à reeleição de Paulo Câmara. Cada qual tomou seu rumo. O que ela fará nas próximas duas eleições é que não está claro. O PT vai dar-lhe legenda para disputar a PCR em 2020 e o governo estadual em 2022?
Viés ideológico
Quando não gosta de uma pessoa, Bolsonaro acusa o desafeto de estar agindo dentro do governo com “viés ideológico”. Essa tática já foi desmoralizada pelos fatos, mas continua produzindo vítimas. Os ataques aos governadores Flávio Dino (PCdoB) e João Azevedo (PB) uniu o bloco de nordestinos contra ele, que nada fez pela região até agora a não ser em falar em “ideologia”.
O FIG está capturado
Nunca, antes, em seus 4 anos e meio de governo, Paulo Câmara pernoitou três dias numa mesma cidade com interesse político. Ele desembargou 5ª, em Garanhuns, para fazer a abertura do Festival de Interno. E só voltou para o Recife no sábado à tarde. O objetivo da viagem foi cumprido: “capturar” o FIG para a Fundarpe e lançar o nome de Sivaldo Albino (PSB) para prefeito em 2020.
Fumaça só no dia 17
Bolsonaro recebeu das mãos do procurador da República paraibano, Fábio George Nóbrega, a lista com os três nomes mais votados da categoria visando à substituição da Raquel Dodge no comando da PGR. De 2003 para cá, todos os presidentes respeitaram a lista tríplice. Bolsonaro se recusa a fazê-lo, mas avisa que a “fumacinha branca” vai aparecer no Planalto dia 17/8.
Como cuidar de 2022
Estudioso da política nacional, o ex-ministro Gustavo Krause já notou onde Bolsonaro quer chegar valendo-se de bravatas e de um discurso de extrema direita: à reeleição em 2022. A “lógica” desse projeto, diz o ex-ministro, é a relação que o presidente mantém com os evangélicos, com os militares e com os movimentos de “direita”. Tudo isso, somado, o levaria ao 2º turno.
O fim de um ciclo
Chegou ao fim, ontem, literalmente, a tradicional Festa Universária de São José do Egito, que nasceu há 48 anos pelas mãos do acadêmico de Medicina José Augusto Ramos para engajar a mocidade no combate à ditadura Militar. Ramos foi prefeito de Diadema e deputado federal. Uniram-se para acabar a festa a Prefeitura, a Fundarpe e os secretários Paulo de Tarso e Augusto Valadares, sob o olhar passivo do deputado Tadeu Alencar (PSB).
Caruaru é duro na queda
Está em exame no governo estadual fazer um “São João” paralelo em Caruaru em 2020 como forma de fragilizar politicamente a prefeita Raquel Lyra (PSDB). Ela já notou esses primeiros movimentos e tratou imediatamente de realizar festejos juninos na zona rural, que tem cerce de 60 mil eleitores. A “Operação FIG” deu certo, mas a de Caruaru seria muito mais complicada.
Bolsonaro também ataca Câmara
O ataque do presidente aos governadores do Nordeste foi geral, mas no específico não se restringiu aos governadores do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), e da Paraíba, João Azevêdo (PSB). Bolsonaro citou também o governador Paulo Câmara (PSB), sugerindo que usa o Bolsa Família para manipular o eleitorado pernambucano.
“O Nordeste foi muito utilizado contra mim na campanha, dizendo que eu ia acabar com o Bolsa Família. Eu dei o 13º para o Bolsa Família. O governador de Pernambuco, há poucos meses, anunciou que deu o 13º, enquanto esse projeto morreu no Senado por um relator do PT. Então, a verdade liberta a gente”, afirmou.
Flávio Dino reagiu imediatamente. Pelas redes sociais, declarou: “Seja ao Maranhão ou qualquer outro Estado, o presidente não pode perseguir um ente da Federação. Trata-se de orientação administrativa gravemente ilegal”. Bolsonaro perdeu o controle da língua. Devia se espelhar no velho ditado: “Quem fala demais, dá bom dia a cavalo”.
Bolsa estadual – Em abril, Paulo Câmara lançou o 13º do Bolsa Família, no Centro de Convenções. O valor pago vai além de qualquer ação da União, segundo o secretário Sileno Guedes (Desenvolvimento Social). “Nunca houve uma mudança nesse sentido. Ainda no final do ano passado, enviamos à Assembleia uma autorização para que o Governo pudesse implantar o programa”, explicou.
Curta e dura – Os artistas nordestinos também reagiram à pisada de bola do presidente, que chamou a região de Paraíba. A cantora Alcione Marrom, maranhense brava, declarou: “Não votei no senhor e não me arrependo, mas não sou burra de torcer contra o Brasil. Agora, meu avô sempre dizia: “Quem quer respeito se dá respeito, e o senhor não está dando respeito ao Nordeste”.
Investigação – O vice-líder do PCdoB na Câmara, Márcio Jerry (MA), anunciou que pedirá à Procuradoria-Geral da República que investigue o presidente Jair Bolsonaro (PSL) por declarações agressivas e desrespeitosas aos governadores do Nordeste, especialmente o do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB). Em carta a Bolsonaro, os governadores cobraram esclarecimentos.
Será? – Postagem que varreu as redes sociais, ontem, anunciava nova greve dos caminhoneiros a partir de hoje em todo País. O recado foi dado por um grupo de caminhoneiros numa gravação na BR-101. Mas a população ignorou. Não houve correria aos postos.
Corajoso – Depois de fazer uma declaração de guerra aos governadores do Nordeste, o presidente pisa, amanhã, em solo baiano, para cumprir agenda em Vitória da Conquista. Pela reação dos nordestinos nas redes sociais, corre o risco de ser xingado e enfrentar protestos.
SAI CANDIDATO – Contra a vontade do prefeito de Afogados da Ingazeira, José Patriota (PSB), a quem ajudou a eleger, o ex-prefeito Totonho Valadares (PSB) se movimenta para disputar a Prefeitura. Fez, sábado passado, em sua casa-fazenda, uma grande boca-livre de aniversário.
Perguntar não ofende: Vitória da Conquista, onde tem agenda presidencial amanhã, vai receber Bolsonaro com uma chuva de ovos depois das agressões dele ao Nordeste?