247 | O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, se reuniram neste domingo (26) em Kuala Lumpur, na Malásia, para discutir os rumos da relação econômica entre os dois países. O encontro, que durou cerca de 50 minutos, considerado estratégico, ocorreu às 15h30 (horário local) — 4h30 em Brasília — no Centro da Cidade de Kuala Lumpur (KLCC) e contou com ministros e diplomatas dos dois governos. “Vamos chegar a um acordo”, declarou o presidente estadunidense pouco antes da reunião, de acordo com O Globo. Lula, por sua vez, afirmou que “haverá boas notícias” após a reunião, demonstrando otimismo quanto aos próximos passos do diálogo bilateral.
A comitiva brasileira foi formada pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira; o titular do MDIC, Márcio Elias Rosa; e o diplomata Audo Faleiro, integrante da equipe do assessor especial da Presidência, Celso Amorim.
O principal tema do encontro foi o tarifaço imposto por Washington sobre produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos, questão que tem gerado atritos e impactos significativos no comércio exterior do país.
Por Leonardo Sakamoto, no UOL / Preocupava o governo brasileiro na preparação da primeira reunião presencial entre Lula e Trump a coletiva a jornalistas que costuma acontecer junto a encontros de chefes de Estado. Aliados de Jair Bolsonaro torciam para que o norte-americano tentasse constranger o brasileiro, tal como fez com o ucraniano Volodymyr Zelensky e o sul-africano Cyril Ramaphosa. Mas o que se ouviu foram trocas de afagos e cordialidades.
Não apenas porque o terreno é neutro (Kuala Lumpur, na Malásia) e não a Casa Branca, em Washington DC, mas também porque Trump quer um acordo com o Brasil, de olho na inflação dos alimentos dentro dos Estados Unidos, nas necessidades de parceria estratégica diante da disputa com a China (o que envolve terras raras e outras matérias-primas, mas também mercado), na tentativa de obter privilégios às big techs.
Na coletiva aos colegas jornalistas, ao invés do bullying, Trump deu boas declarações sobre Lula e apontou que as perspectivas de acordo são grandes: “Nós nos damos muitos bem”, “temos muito respeito pelo seu presidente”, “temos muito respeito pelo Brasil”, “vamos fazer negócios”, “é uma grande honra estar com o presidente do Brasil”, “eu acho que o Brasil está indo bem”, “seremos capazes de fazer alguns bons negócios”, “vamos ter um bom relacionamento”, “chegaremos a uma conclusão [sobre as tarifas] rapidamente”.
Questionado pela imprensa sobre Bolsonaro, Trump disse que se “sente mal” por ele, mas não quis dizer aos repórteres se o assunto seria tocado na reunião. Tratou como assunto lateral. Afinal, America First. O bolsonarismo se agarrou nisso nas redes, como um náufrago que confunde chumbo com isopor. Lula disse a Trump que o julgamento do ex-presidente respeitou o devido processo legal e não há perseguição política ou jurídica. E reclamou da injustiça da aplicação de sanções contra autoridades brasileiras.
O julgamento de Jair estava citado na carta de Trump como uma das razões que levou às sanções ao Brasil, o que gerou perda de empregos, fechamento de empresas e prejuízos econômicos por aqui. O deputado federal Eduardo Bolsonaro e assessores vêm incitando o governo dos EUA a moverem sanções contra o Brasil para pressionar pela liberdade do pai. Agora, as equipes de ambos os presidentes vão sentar para tentar costurar acordos. Ao que tudo indica, ao menos por enquanto (porque o governo dos EUA é imprevisível e tudo pode acontecer), Trump e Lula seguem agindo como adultos na sala, enquanto traidores brasileiros ainda tentam tocar fogo no parquinho.